Coimbra – geografia humana: a festa? II

Vidal: Praça da república  (o possível entre carros) - Chamavam-se café Académico e Tropical, agora vazios . Maio 08

Última paragem: Estação de Coimbra A. Onde está o centro? Perto. Coimbra não tem um centro: tem uma baixa, uma baixinha e uma alta. Para além do(s) centro(s)… Mas onde? À entrada da estação o Mondego espreita-se à nossa direita e continua por ali à medida que descemos em direcção a uma paragem de Bus. Os TAXIS também se amam? Eu costumava apanhar o 46 que subia em direcção à Praça da República e depois ainda a subir rumo, creio, a Celas. Saia numa paragem perto do Liceu José falcão e encaixava mais uma subida para a Henriques Seco rumo à Real República dos Pyn-Guins.

Mas antes disso parava: tascos, tasquisses, montadas e cumprimentos amigos amontoavam-se nas redondezas. Tínhamos que “fazer” cuidado para chegar a casa ilesos e, de preferência, antes de terça ou quarta-feira (chegava-se ao domingo). Às vezes um lombinho matreiro cozinhado pela manhã moçambicana da mãe do sr. Zé “fire water” desencantava um vinho “frisante” e bingo: a morte do artista. Mas podia ser uma penumbra imaculada em paragem no Jardim da Sereia, já a descer, e o castigo, mais abaixo, sem casa por perto. Onde fica a casa? Ou então, não se encontra a casa , era sempre a estação de Kurst em Moscovo (já leram a "Lucidez de um Alcoólico Genial"?)… e depois acordar.

As manhãs eram aguarelas adormecidas na penumbra do sono. Mas normalmente já seriam tardes noites. A ribanceira despejava-nos na Praça da República. Por ali assomavam as “novidades” e os parceiros atropelavam-se nos cafés. A fauna era diversificada e alegre - estudantes e nativos nas mais variadas poses: punks de trazer por casa e outros verdadeiros e anacrónicos, rockabillies e psichobillies (em portuga: rocabili) góticos, freaks, inclassificáveis, vampiros, académicos, mascarados, normalecos, pimbas e atrasados mentais, disputavam num rebuliço crónico o “espaço vital”. Dá-se o caso que ficaram esquecidos, outra vez, os músicos, os poetas e os bandos organizados literários, todos de costas curvadinhas nos cafés à pinha. Acresce os comunas, os PSRs, os lenços palestinianos, os pós-modernos e os country boys. Ia agora dizer “um regabofe” mas ainda é cedo. Estava tudo sóbrio, ou quase, no quartier latin coimbrão, pelas 22horas.

Se fosse o início de primavera, poderia dar-se o caso de termos janta e celebração celta na rua da matemática (festa da primavera) com feijoada à borla na rua, “fabricada” nas repúblicas da área (e algum vinho a fazer de cidra). Poderia acontecer também, pese o acordo com a polícia e restantes habitantes, acabar-se, pois então, na carrocinha a caminho da esquadra, numa madrugada inesquecível.

Em noite de normalidades efémeras, a coisa desaguaria na Cave das Químicas, lugar de celebrações intermináveis, concertos, borlas de cerveja em final de Semana das Repúblicas; ou, na States, ou quem sabe, nas tascas da "Rua do Brasil", ou ainda (em 1992) no Abismo, ou talvez num jogo de bola às tantas decorrido febrilmente na Praça da Republica, ou ainda…

Continuará com: livros, cinema, teatro, livros, espreitadelas e a… Faculdade de Letras.



Comentários

Edward Soja disse…
Ah!...

"Eu não estava lá,
eu não estava lá"

"Estava em Braga, demasiado entretido a crescer..."

Fantástico texto, amigo.
Rogeriomad disse…
Recordar o passado ou descrever o presente? Ou será um misto das duas coisas?
Anónimo disse…
Saudações. já tinha lido o outro post sobre Coimbra. é verdade que tudo mudou depois de mais ou menos 1994. Vidal? Andei nas Letras por essa altura...
já não vou a Coimbra á séculos e séculos...
Ganda texto
seixomirense disse…
Coimbra e a Praça é um mudo à parte. A fauna já não é bem assim.

Mensagens populares