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O urbanismo é a realização moderna da tarefa ininterrupta que salvaguarda o poder de classe: a manutenção da atomização dos trabalhadores que as condições urbanas de produção tinham perigosamente reagrupado. A luta constante que teve de ser travada contra todos os aspectos desta possibilidade de encontro descobre no urbanismo o seu campo privilegiado. O esforço de todos os poderes estabelecidos, desde as experiências da Revolução Francesa, para aumentar os meios de manter a ordem na rua culmina finalmente na supressão da rua. «Com os meios de comunicação de massa que eliminam as grandes distâncias, o isolamento da população demonstrou ser um meio de controlo muito mais eficaz.», constata Lewis Munford em A Cidade na História, ao descrever um «mundo doravante único». Mas o movimento geral do isolamento, que é a realidade do urbanismo, deve também conter uma reintegração controlada dos trabalhadores, segundo as necessidades planificáveis da produção e do consumo. A integração no sistema deve apoderar-se dos indivíduos isolados enquanto indivíduos isolados em conjunto: as fábricas como as casas de cultura, as aldeias de férias como «os grandes conjuntos habitacionais», são especialmente organizados para os fins desta pseudocolectividade que acompanha também o indivíduo isolado na célula familiar: o emprego generalizado dos receptores da mensagem espectacular faz [com] que o seu isolamento se encontre povoado pelas imagens dominantes, imagens que somente através deste isolamento adquirem a sua plena força.



Guy Debord, A Sociedade do Espectáculo, Ed. Antígona, 2012
O texto original data de 1967.

O livro de Munford (clicar ali em cima, no seu título) foi o terceiro livro do mês aqui no Georden, já lá vão mais de cinco anos.

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