Imobilidade Cultural

Recentemente esteve entre nós o Sr. Richard Larson, docente do MIT (Massachusetts Institute of Technology), para nos brindar com algumas directrizes iluminadas sobre os problemas de tráfego e de mobilidade nas cidades e nomeadamente nos respectivos centros. Segundo o Sr. Richard trata-se afinal de procura a mais (lá está a vertente economicista – eu diria carros a mais!) e oferta a menos. Propõe-se para resolver o dito a instalação de portagens para a entrada em determinadas áreas, à imagem de Londres e Singapura, por Ex, nada que não se soubesse já e até, vejam lá, estudado na Universidade. A outra proposta é mais “Americana” ainda.

Segundo Richard parte do problema está nas denominadas “voltinhas” para arranjar estacionamento (qualquer estacionamento?), isto é, para conseguir estacionamento barato, ou à borla (e se não existir estacionamentos nem capacidade para tal?). Vai daí o Sr. sugere que, obviamente se deve aumentar (lá está a economia) os preços de estacionamento (até resolver a coisa pergunta-se?). Em última instancia quem não tiver graveto, esse sim, terá que usar os transportes públicos.

O Sr. Richard não conhece Portugal, talvez conheça o peixinho frito e o bacalhau e quem sabe o ALLGARVE e certamente ouviu falar da West Cost da Europa, mas não conhece o país. Aqui há uns anos na Universidade, para a disciplina de Planeamento e Gestão Urbanística, criaram-se grupos para proceder a contagens em algumas entradas da cidade de Guimarães. Realizaram-se algumas no sentido Braga/Guimarães de manhã cedo, estabelecendo intervalos de 15 minutos. Verificou-se que para além do tráfego, em todas as classes estudadas, ser muito superior aquilo que esperávamos (e esperávamos muito), também se demonstrou que quase todos os veículos (ou grande parte) transportavam apenas uma pessoa, o condutor ou duas, máximo. A questão é cultural. Não basta ir de carro: cada um quer ir no seu, não faltava mais nada ir noutro quando se tem o carrito em casa ou dois carritos, por família.

O Sr. Richard poderia ter-nos brindado com ensinamentos e exemplos positivos, designadamente, a experiência da Golden Gate em São Francisco, na qual se disponibiliza um faixa isenta de pagamento portagem para veículos com pelos menos três pessoas, ou ainda, algumas vias rápidas de Los Angeles, com vias privilegiadas para veículos com mais de duas pessoas, uma espécie de corredor.

O problema Sr. Richard é que em Portugal as cidades perdem residentes. O problema assenta na quantidade de veículos que todos os dias entram. A questão é a investida bárbara diária. Depois de desembocarem, mal ou bem, ter-se-á que os arrumar.

Comentários

Anónimo disse…
De certeza que esse senhor não conheçe portugal e muito menos o porto. O problema do trafego nas cidades é muito complexo e passaria muito pela atitude das pessoas. sem isso..
Rogeriomad disse…
Não só a atitude das pessoas é fundamental...

Numa região como o Algarve é praticamente impossível não usar o transporte individual.
- Comboios não temos! (A linha encontra-se longe dos principais núcleos urbanos e para além disso o material circulante está a cair de podre. Fraca regularidade do serviço, etc.)
- BUS temos o monopólio da EVA... (apesar das melhorias ainda não tem carreiras regulares para vários destinos. E o serviço termina às 20h00. Quem faz vida de noite, esqueça os transportes!)

Na região as cidades encontram-se distantes umas das outras... há fortes movimentos pendulares entre concelhos (trabalho-casa-escola)... sem um sistema/rede de transportes eficiente (melhor qualidade, menor tempo e custo) as pessoas optam pelo carrinho...

Além disso temos uma SCUT...
"Sempre abrir a noite toda... sempre a rockandrollar..."

Foi o que aconteceu comigo.
Gastava cerca de 20 euros por semana no BUS entre Quarteira-Faro... tinha de acordar mais cedo 1 hora...
Com o carrinho... acordo a uma hora porreira... deixo a minha mãe em Almancil e sigo para Faro...
e gastamos em gasóleo uns 15 euros...

Hoje contribuo para as 60 mil entradas diárias na cidade de Faro.
Parece-vos muito ou pouco?
Se apanho a hora de ponta... atraso-me cerca de 30-45 minutos (não é muito tendo em conta outras realidades)

Em relação às propostas do senhor, considero que são válidas, depende do território onde queremos aplicar. Eu recentemente propus o condicionamento do trânsito numa área de alta sensabilidade ambiental, através de portagem, o acesso deve ser feito mediante o pagamento de uma tarifa/taxa. Apenas livre para moradores...
Tal como é feito em centros históricos, etc...

No período estival (como sabem, o Algarve é uma coisa de Inverno e outra de Verão...) o Algarve ultrapassa a sua capacidade de carga (de estacionamento) em muitas áreas das cidades. É necessário haver controlo...

As ideias desse senhor não parecem más de todo...

Mas é verdade...
"A questão é cultural..."
Também... Concordo!
Vidal disse…
Na perspectiva aflorada da ausência de alternativas…não há nada a fazer. Todavia, mesmo em situações com alternativas nem sempre estas são consideradas ou sequer equacionadas. Por outro lado, principalmente a Norte, várias empresas (muitas foram subsidiadas pelo estado) cortam “ carreiras” por se apresentarem pouco rentáveis ( sem estudos para o exterior, dado que receberam incentivos). Acresce que nas grandes cidades mesmo hoje com alternativas (veja-se o Porto) a situação melhora mas não o suficiente, pelas razões que avancei. A questão não será apenas cultural, assenta num planeamento erróneo de décadas. Mas quem somos nós…

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