Variante de panis et circenses

Brasil: A Pau e Circo ou a Pau no capitalismo e controlo social?

A Copa 2014 e as Olimpíadas 2016 ameaçam desde já a vida, já tão difícil, de milhões de pessoas, em todo o Brasil. Os megaprojectos de “urbanização”, nas cidades-sede, como sejam o caso do Rio de Janeiro, S.Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Fortaleza, estão a provocar mega-operações de despejo, desemprego, restrição das liberdades individuais, concentração do capital, em suma: megagentrificação, mega-repressão, megapobreza. Coerção e consentimento, criminalização dos pobres e “patriotismo da cidade”. Eis a velha fórmula de hegemonia. E há aqueles que resistem. Lutas que começam antes, que se intensificam durante os eventos e que continuam depois de eles terminarem. A guerra social.

Copa, Olimpíadas, Movimentos Sociais e Cidade de Excepção

Só no Rio de Janeiro está previsto o desmantelamento de 130 favelas até as Olimpíadas. Para a construção de 3 grandes vias rodoviárias (Transcarioca, Transoeste e Transolímpica) serão necessários milhares de despejos e desmantelamentos. Os 73 terrenos do Metro, todos em áreas com infra-estruturas, em vez de serem usados para habitação popular, serão vendidos para adquirir fundos para o metro prometido ao COI. A Zona portuária carioca, onde cerca de 70% do solo é público, também entrou nos planos Olímpicos, para reforçar o projecto de aburguesamento da região. A política de “segurança” tem como prioridade criar zonas de paz (e de muros) nas redondezas dos equipamentos esportivos, nas vias de acesso dos turistas a esses equipamentos e nas áreas valorizadas ou em vias de valorização.

Mega-eventos desportivos como a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos estão associados, hoje em dia, à execução de grandes projectos de intervenção urbana. A organização desses grandes eventos passa a fazer parte de um tipo de modelo de planificação urbana, o “empresariamento urbano”, para o qual a venda e/ou a reconstrução da imagem da cidade, moldada de acordo com as necessidades de acumulação de capital, é um dos aspectos centrais. Intervenções pontuais capazes de estimular uma renovação urbana em diferentes áreas e a construção de uma imagem de cidade sem conflitos são algumas das estratégias necessárias para a implementação do empresariamento urbano. Essas áreas da cidade, valorizadas por obras de infra-estrutura e pela proximidade de equipamentos desportivos, para atrair investimentos e novos negócios, tornam-se palco de despejos e remoções dos moradores pobres, de rua e de habitações irregulares, da repressão aos trabalhadores de rua, ambulantes etc. A cidade também precisa de ser libertada de conflitos e, para tanto, a repressão policial objectiva intimidar e impedir a ocorrência de manifestações dos críticos e atingidos por estas mudanças.

Copa, Olimpíadas e o Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, os efeitos deste modelo já podem ser sentidos. Todos os projectos de intervenção urbana, tanto na área de transportes, como habitação, segurança e saneamento são voltados para os mega-eventos desportivos. Afinal, os mega-eventos proporcionam alguns dias de grande divulgação da imagem da cidade, e a propaganda é a alma do negócio. Mas, se a propaganda é a alma, o que está a ser negociado é bem concreto: são os terrenos públicos e privados que poderiam ser usados para habitação popular. Estão a ser negociadas as isenções de impostos para os investimentos do capital, enquanto faltam recursos para saúde e educação. Estão a ser negociadas novas leis e parâmetros urbanísticos que atendam às grandes cadeias internacionais de hotéis, e que garantam também que os pobres serão removidos para bem longe. Do mesmo modo mais uma remodelação do Maracanã, outra do Sambódromo, além da construção, com dinheiro público, de vilas olímpicas para atletas, árbitros, média etc, de forma a que as construtoras recebam todos os benefícios, aluguem esses quartos para o poder público antes e durante os eventos, e depois os vendam para os ricos e especuladores.

Em suma, está a ser negociada a cidade, e com ela todos os seus recursos e os já poucos direitos dos seus moradores e trabalhadores. Argumentam que vivemos um momento excepcional, que prazos para obras precisam de ser cumpridos para que o Rio e o Brasil não passem profundos constrangimentos internacionais. O resultado é a instauração de uma cidade de excepção. Só no Rio de Janeiro estão previstas remoções de 130 favelas até as Olimpíadas, milhares de despejos e remoções, repressão brutal, pobres para fora da cidades, ocupando novos terrenos em perigo de derrocadas a mais de 50 km, sem emprego, desenraízados.

A política de “segurança”, o que inclui as UPPs, tem como prioridade criar zonas de paz (e de muros) à volta dos equipamentos desportivos, nas vias de acesso dos turistas a esses equipamentos e nas áreas valorizadas ou em vias de valorização. Segundo a teoria, as cidades globais que concentram sedes de empresas transnacionais, precisam de ter hotéis, serviços e equipamentos de 1ª classe para esses homens de negócios que dirigem as empresas. Precisa também de ter uma excelente infra-estrutura para essas empresas, tanto na área de comunicações como aeroportos, segurança etc. E precisam ainda de ter condições atractivas para as empresas, como isenção de impostos, oferta de terrenos com infra-estrutura e baixo preço, mão-de-obra barata etc. Novamente, segundo essa teoria, alguns dos efeitos desse modelo tão almejado são o aumento da desigualdade social e económica e da segregação espacial. Ou ninguém se lembra das festas de rua para comemorar a vitória do Rio e do Brasil pelo direito de ser sede das Olimpíadas? A realização desses mega-eventos serve também para difusão de um “patriotismo da cidade”. E o patriotismo da cidade serve para angariar apoio popular ao projecto da classe dominante, mas serve também para evitar e criminalizar as críticas, os conflitos urbanos, no trabalho, fortalecendo ainda mais a cidade de excepção.

Coerção e consentimento, criminalização dos pobres e patriotismo da cidade… e há aqueles que resistem. A resistência é feita de lutas que começam antes, que se intensificam durante os eventos e que continuam depois de terminarem. A guerra social.

Fontes: pelamoradia.wordpress.comcomitepopularcopapoa2014.blogspot.comdiasemcompras.wordpress.com

resistencialibertaria.org



Via Contrainfo


A acumulação de capital na sua manifestação espacial: é aqui que a Geografia entra ao barulho com a Economia (capitalista). Este processo de espoliação tem vindo a ser accionado há anos e encontra-se descrito no livro de David Harvey.

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