Dá-nos licença para falar, Sr. Alberto Martins?


Faz hoje 40 anos que o sr. Alberto Martins, à época presidente da Associação Académica de Coimbra, e residente (como mais tarde este escriba) na Real República dos Pyn-Guins, hoje por hoje, deputado na Assembleia da República pelo PS; faz hoje 40 anos (1969), dizia eu que, o sr. Martins pediu a palavra, na famosa sala Infante D. Henrique (hoje 17 de Abril), ao sr. Presidente da República Américo Tomás, para falar em nome dos estudantes (vínhamos do Maio de 68 e os estudantes tinham várias reivindicações e queriam ser ouvidos). Foi-lhe negada. Falaria a seguir o ministro (acho) das obras públicas. Os estudantes protestaram. À noite Alberto Martins estava preso. Ele e outros. Seguiu-se-lhe um período de prisões, perseguições e exército nas ruas. Foi decretado o luto académico. Meses de tensão abraçaram os estudantes unidos. Ainda apanhei no início da década de 1990 um pulsar genuíno da força e do potencial estudantil quando unido e quando esclarecido. Lia-se muito. Avidamente, o que ajuda. Queria-se (alguns pelo menos) conhecer a história e as estórias da academia e da sua intervenção política e social, e menos a mascarada das praxes e da tradição retocada e fantasmática. Não sei se ainda resta alguma coisa. Mas hoje na Assembleia parece que é proibida a utilização de certas palavras ("autista", por exemplo, a pedido de certas famílias) na senda do que já vem sendo habitual, com a censura de livros e de desfiles de Carnaval, entre outras mordaças. Já agora, dá-nos licença que tomemos a palavra sr. Alberto Martins?
Não seja autista…

Comentários

seixomirense disse…
Não sabia que o Alberto Martins foi dos Pyn Guins. Não sabia que a sala se chamava Infante D. Henrique. Já andei em Matemática e tive aulas naquela sala. Olhe, já agora vivo numa República ao lado da sua, Farol das Ilhas. Quanto aos autistas, tem que se compreender, proibir nunca, mas convêm não usar, as famílias de autistas já têm problemas que cheguem.
Vidal disse…
Meu caro, ainda bem que podemos ser úteis em alguma coisa. Por outro lado, esse relativismo muito actual, que nos (embora eu aqui me exclua) leva a “compreender” demasiadas coisas, supostamente num plano de (boas) “intenções” não concordando, todavia, com os fins, isto é as proibições, parece-me lavagem de consciência e, pelo menos, paradoxal. Atente-se na tentativa recente de controlar o tamanho dos decotes e da saia das meninas trabalhadoras da Loja do Cidadão. Pergunto se vão lá medir? E já agora se parece compreensível? Quero dizer a “intenção”?... É assim que começa.
Já agora aconselho-o a ler o 1984 do sr. George Orwell.
Obrigado pela visita..Saudações Coimbrãs

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